sábado, 5 de outubro de 2019

Eu apenas senti que precisava falar com alguém sobre como eu estava me sentindo. O médico me prescreveu antidepressivos

às vezes é mais fácil prescrever do que sentar e ouvir e tentar resolver problemas complexos, problemas emocionais.






Marise Jalowitzki


Este é o relato de uma adolescente, que se equipara a de tantas e tantos outros, pelo mundo afora.

Parveen, 18, de Solihull, West Mids - UK, entendeu que precisava de ajuda por sentir falta de vontade em realizar 'coisas chatas', vontade de não fazer nada. Então, ela e seus pais resolveram procurar um médico, que indicou terapia psicológica-psicanalítica. A garota procurou o serviço oferecido pelo estado e a resposta que recebeu por telefone foi: 


"Não vou mentir para você, a lista de espera é de cinco a seis meses". 


A adolescente retornou ao médico que havia indicado a terapia e informou da resposta recebida. 


Seu médico prescreveu antidepressivos - mas três dias depois ela tentou tirar a própria vida.


Agora, depois de internações e 
de experimentar repetidos pensamentos suicidas,  ela conta sobre seu desespero quando ouviu que a terapia havia sido adiada - mais uma vez - para um prazo indeterminado.


Falando sobre sua depressão, ela diz: 


“Era como pensamentos constantes de não querer estar viva.


"Eu estava dizendo que não me sinto bem, que não quero fazer nada.


“Eu apenas senti que precisava falar com alguém sobre como eu estava me sentindo. Voltei ao meu médico.


"Ele estava tipo: 'Tudo bem, eu vou prescrever antidepressivos'.


"Eu estava pensando: 'Por que estou recebendo antidepressivos, sendo que eu só quero falar com alguém'?"


"Mas eu não tinha isso e não estava tendo acesso a terapia. '
A lista de espera foi mais longa, você não receberá terapia tão cedo', foi o que ouvi."


“Eu tomei antidepressivos por dois dias e no segundo dia, lembro que foi a primeira vez que me machuquei. E os cortes foram calculados, com a intenção de tirar minha própria vida."


"Minha mãe me encontrou já caída e chamou a ambulância." 


Segurando uma carta do Serviço de Saúde, a jovem resume seu desespero e impotência: "A lista de espera foi mais longa, você não vai receber terapia tão cedo".


Ela acrescenta: "É como partir o coração".


No Reino Unido, um levantamento feito mostra que, entre 2017 e 2018, metade das crianças e adolescentes que necessitam de tratamento especializado esperaram mais de 18 semanas (mais de três meses) por ajuda, após uma avaliação inicial. No Brasil, estes dados nem são de conhecimento público mas, com certeza, podem durar anos.



Antidepressivos costumam ser usados ​​para preencher a lacuna entre a demanda e o atendimento pelo serviço público


De acordo com a Dra. Rachel Preston, GP principal da Lakes Medical Practice em Penrith, Cumbria, os antidepressivos costumam ser usados ​​para preencher a lacuna entre a demanda e os serviços do NHS. 


Aqui, costumam já ser prescritos na primeira consulta, até mesmo por clínico geral. Também, muitas mães esperam por isto, na errônea crença de que o "remédio" vá resolver.... Crença indevida, que é gerada pela pressão da mídia a favor da indústria farmacêutica e da pressa de se ver livre do "problema" o quanto antes. Sem refletir sobre a grande possibilidade da piora do quadro, que costuma advir, de forma única ou conjugada (efeitos colaterais, riscos sérios, síndrome de abstinência, dependência).


"Há momentos em que pode ser a coisa certa a fazer para uma pessoa jovem, mas isso é realmente complicado, principalmente devido às orientações atuais. 
Obviamente, o ideal é que eles obtenham apoio adequado à saúde mental", declara a Dra. Rachel Preston.


“Acho que uma das dificuldades é que, como todos sabem, os GPs talvez estejam mais pressionados e tenham menos tempo do que realmente precisaríamos, e às vezes é mais fácil prescrever do que sentar e ouvir e tentar resolver problemas complexos. problemas emocionais.


“O que você gostaria é de apoio psicológico e terapias para ajudar essa pessoa a melhorar. Se isso não estiver disponível, uma de suas opções é um antidepressivo. E essa é opção que você pode efornecer" completa Preston.


Entre todos os antidepressivos, apenas um desses medicamentos, Fluoxetina, pode ser prescrito para menores de 18 anos.


Uma pesquisa da Dispatches descobriu que, dos 39% dos médicos que prescrevem o medicamento para menores de 18 anos, apenas 1% considerou o melhor tratamento.


James Davies, que está conduzindo um estudo sobre os efeitos dos antidepressivos, descobriu que a retirada pode durar meses após o paciente parar de tomá-los.


E ele alertou que, em casos extremos, os sintomas são tão graves que podem levar ao suicídio. Ele disse: “Cerca de metade das pessoas que tomam antidepressivos sofreram abstinência.


"Nos casos mais graves, vimos pessoas se suicidarem como consequência de não serem capazes de suportar a gravidade dos sintomas".


Nada de diferente do que temos por aqui. 

A pessoa necessita falar, muitas vezes somente o tempo de desabafo pode ajudar, mas não encontra este respaldo. 

Torcendo muito para que as autoridades aumentem a oferta dos serviços de escuta (CAPS) no Brasil. Torcendo muito, mesmo, pois as ações do pessoal responsável pela Saúde, está na contramão da realidade e da demanda, intentando, isso sim, fechar vários deles. Infelizmente.

O CVV (Centro de Valorização da Vida), tenta suprir esta lacuna. Com um serviço telefônico gratuito (188) atende 24h por dia, a todo território nacional. Não produz vínculo, porém, já que a cada nova ligação o(a) voluntário(a) que atende será outro. Como relata uma das voluntárias do serviço: "Procuramos dar o melhor de nós, dentro do que recebemos como orientação. Mas, após encerrar a chamada, nada mais sabemos sobre o que acontece depois."


Ainda assim, super válido o trabalho realizado pelo CVV. Muitas vezes, o 'outro lado da linha' quer apenas ouvir uma voz, constatar que alguém o escuta. 


Parabéns e Bençãos!

E, como digo sempre: frente à pouca atenção do poder público para o tema - e o número crescente de suicídios e de diagnósticos de depressão, ajude! Seja empático! E não queira 'resolver', 'solucionar' o problema. Simplesmente ouça. Acolha. Se possível, leve para passear ao ar livre. Ver coisas, outros cenários. Ofereça seu ombro. Silenciosamente acompanhe. Tudo ajuda. 



Serviu de fonte:  https://www.thesun.co.uk/news/9599813/channel-4-documentary-mental-health-kids/
Link deste post, neste blog: https://suicidionao-sempretemquemseimporta.blogspot.com/2019/10/eu-apenas-senti-que-precisava-falar-com.html








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