sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Autoaceitação e hiperexposição social

Fala-se muito em saúde emocional, mas bem pouco - e, muitas vezes, nada - para a PERMISSÃO ao sofrimento. Um tempo que é totalmente individual e normal.





Marise Jalowitzki



Hiperexposição diária em redes sociais, em conversas, em grupos virtuais ou em rodas presenciais (como na escola, por exemplo), apresentam sempre o lado 'mais bonito' - e tantas vezes irreal - da vida de muitas pessoas. 

São relatos de aparentes 'vencedores' que, dependendo do grau de intimidade, podem até mesmo zoar daquele que não aparente a mesma 'glória' e glamour.


Nos dias atuais, amores 'eternos' aparecem e desaparecem com a mesma agilidade.


Não há vínculos.


Não somente os jovens, mas, sim, muitos deles, querem aparentar um estado permanente de felicidade, de estar se dando bem, de estar conseguindo aquela mina ou aquele garoto, em comparecer nos 'melhores' lugares, etc. etc..


Sim, tudo isto é bom, é desejável, mas não é o único aspecto da vida!


Vivemos em um momento onde tudo se potencializa rapidamente. Para os que sentem aquele vazio frustrante, não há a permissão para o sofrimento subjetivo, sendo que este sofrimento é inerente à vida de todos nós!


Fala-se muito em saúde emocional, mas bem pouco - e, muitas vezes, nada - para a PERMISSÃO ao sofrimento. Um tempo que é totalmente individual e normal.


'Arrastar correntes' de tristeza é um estado individual, cada um sente por um tempo que é só seu. A maior parte dos familiares e amigos até se dispõe a escutar o que põe o outro pra baixo, mas logo se inquieta, se desconforta e chegam as receitas prontas, as maneiras 'infalíveis' (e quase sempre desastrosas) de tentar retirar o outro de seu estado de tristeza, de desalento, de introspecção. Que não necessariamente seja depressão. O indivíduo é bombardeado com "Se eu fosse você faria assim..." - "Ah! Mas não é pra tanto..." - "Sinceramente? para com isso!" - "Esquece!" - "Para de falar nisso..." 


E quem não consegue? E quantos são os que não conseguem? Aí, ou continuam mentindo que estão bem, esforçando-se por sorrir e aparentar, até não aguentar mais, ou, em não aguentando, passam a fazer parte - especialmente em redes sociais - de grupos de depressão e de, até mesmo, de incitação ao suicídio.


Nem ali são plenamente acolhidos ou entendidos. Recebem, nestes grupos, depoimentos de pessoas que dizem passar pelo mesmo e, não raro, são convidados a experimentar um alívio para sua dor emocional-psíquica com convites à automutilação. Medicados com psicotrópicos ou não (Sabe-se que muitos psicotrópicos induzem a ideias de suicídio, só que este caminho - do suicídio - também vem sendo sugerido como uma 'solução definitiva' ao sofrimento). 


Pessoas fragilizadas, em sofrimento atroz, ao receber repetida e continuamente convites para uma 'saída heróica', que 'vai causar impacto', acabam se autoconvencendo que é a 'única' maneira de receber atenção. Gente, mas a que preço? Apenas no imaginário, pois nem estarão mais ali para receber a [suposta] atenção...


Muitos destes grupos virtuais são fechados, para logo serem substituídos por outros.


Então, como fazer para receber ajuda em um mundo que não quer saber de sofrimento, que não se interessa em obter intimidade suficiente para estabelecer vínculos saudáveis?

As consequências disso em nossa sociedade apontam cada vez mais para a insegurança, procurando em soluções superficiais a obtenção do bem estar imaginado.


Colar em personagens imaginários não é o caminho. 


Aos que estão em luta consigo mesmos, deixo aqui um convite para expor-se grupalmente menos. 

Caso considere pertinente, buscar uma terapia especializada. 
E para amar-se mais. 
Aceitar-se mais. 
Entender, com o coração, que, por trás de toda esta "felicidade" e "sucesso" que tantos se esforçam em mostrar, existe um obscurantismo bobo, falso, ilusório.

E que, em cada um de nós, há tanta valia, tanta coisa boa, tanto merecimento.


Ter um pet, tomar um banho cheiroso, tomar sol (a vitamina D contida nos raios de sol aumentam a alegria de viver), pintar, desenhar, escrever (verso e-ou prosa), caminhar muito, correr sempre que possível, tomar banhos frios, plantar plantinhas em pequenos vasos. E aceitar-se com a tristeza atual!! 


E saber-se [e aceitar-se] finito, imperfeito, muitas vezes desestruturado COMO TODOS! 

E mandar os que incomodam (ainda que só em pensamento) se f....!!

Amanhã as coisas vão estar diferentes. E podem estar melhores!


Vitamina D, caminhadas, alimentação com menos açúcar refinado, menos farinhas brancas.

Nenhum de nós pode mudar o mundo. As coisas são como são. Podemos mudar a nossa perspectiva, a nossa atitude, a nossa forma de ver e realizar as coisas. Isso, sim. 


Podemos aprender a dar menos valor ao que os outros nos dizem em suas críticas, condenações e julgamentos. 

Podemos reaprender a gostar de nós. Olhar-se no espelho, sorrir (ainda que seja um sorriso amarelinho) e dizer: Cara, eu te amo!!



Link neste blog: https://suicidionao-sempretemquemseimporta.blogspot.com/2019/10/autoaceitacao-e-hiperexposicao-social.html






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