sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

MONETARIZAÇÃO DO IDOSO - Natal Presença







Por Marise Jalowitzki

Com a aproximação do Natal, invariavelmente, algum momento da vida de cada um é balançado por lembranças de encontros, desencontros e reencontros. É certo que, a cada dia que passa, perde-se mais e mais o primordial sentimento que embalou, por séculos, a aproximação familiar: o afeto.

Hoje, vive-se uma outra realidade no dia do Natal: ceia farta, troca de presentes, um ritual a ser cumprido. Para muitos, um episódio enfadonho e enfadante, que querem ver logo concluído. Para aqueles que jogam com as aparências e frivolidades, gracinhas de todas as espécies marcam esses encontros.



idosos e o afeto familiar

Tal situação foi duramente exposta por um comercial da Telefonia Claro (há anos atrás), onde em uma reunião familiar, o grupo fez o "amigo secreto". O comercial mostrava, então, a decepção impactante de um rapaz que recebeu em seu bilhetinho, como "amiga secreta", uma tia idosa, com problemas de surdez. "Troca o chip" era o slogan que vinha ao final... 

Em outro comercial, da mesma empresa de telefonia, na reunião natalina (Ceia de Natal) o rapaz interrompia a tentativa de fala do tio idoso, que queria relembrar um pouco da história de seu avô; era galhofeiramente interrompido, causando enorme mal estar. "Troca o chip".  

Além dos próprios idosos, os adultos mais sensíveis e algumas crianças sabem, sentem a exclusão, sentem o quanto são excluídos. O desastroso comercial reforçava (como se brincadeira fosse) o que em muitos casos acontece: chateou, troca. Chateou, isola. Chateou, joga fora!

O comercial já saiu de circulação, lógico. A realidade, na maioria das relações, permanece. Ainda mais agora, com a crescente popularidade (e uso) dos meios virtuais de convivência, não só dos idosos, mas quaisquer relacionamentos que não agradem integralmente, entram no tratamento imediato de "Cut and dismiss" (corte e dispense), bloqueando e impedindo o acesso... (aliás, as perdas instantâneas constituem hoje uma das principais causas de depressão e suicidalidade, que comentaremos em outro post).

Voltando ao tema deste artigo, que é a questão do isolamento e rejeição do-ao idoso: Quantos jovens e adultos, atualmente, estão sensíveis para o cuidado cotidiano, para o convívio respeitoso para com os mais velhos? Sem tirar a razão dos que consideram uma chatice os maneirismos dos idosos, há, porém, que se desenvolver o trato da boa convivência. E não, pura e simplesmente, o menosprezo e o descarte.

Isto para os casos de envelhecimento puro, sem doenças mais severas.

E para os idosos doentes? Pior ainda, os acamados? Pior ainda, os internados em hospitais ou que participam de instituições de abrigo permanente (casas de repouso, asilos, clínicas geriátricas)?  E para os que perderam a memória? Para os que tem Alzheimer (que, geralmente, apresenta um quadro de irritação)?... Quem fala nisso? Quem traz para a reflexão esta realidade, realidade que está presente em tantos núcleos familiares?

Em uma sociedade que preconiza a eterna juventude, que incentiva todo o tipo de procedimentos para que o corpo dê o mínimo possível de mostras de envelhecimento, fica difícil, mesmo, pedir que a cabeça aprenda a ver o velho, as fragilidades e doenças dele, com naturalidade, com condescendência, com entendimento e aceitação.

Vi pessoas que visitavam parentes em clínicas geriátricas, sem nem conseguir chegar perto do(a) velhinho(a), não tocavam nele(a), falavam alto, de longe. O interno, sentado em uma cadeira de rodas, olhando o vazio, sem participar das conversas, como se realmentye nem existisse mais, nem estivesse ali. Os parentes, em pé, comentando que iriam ao shopping logo após... 

Quadro difícil de ver! E, esses, fazem parte do reduzido número de pessoas que ainda se dispõem a visitar seus parentes em idade mais avançada.


idosos em instituições
O que mais existe é o abandono mesmo. Deixar para alguém, ou para ninguém, o cuidado, a presença. Sim, para ninguém, pois quantos casos são divulgados de idosos doentes, morando sozinhos, sem nenhum apoio, cuidad ou presença?

Como, então, falar em afeto?

O Estatuto do Idoso prevê a garantia do cuidado do parente, pela família. Não estabelece quem, nem quantos. O estatuto visa assegurar que "alguém" seja responsável pelos cuidados básicos: asseio, alimentação, abrigo. (Havia até um percentual de 25% sobre a remuneração do benefício recebido, para auxiliar no cuidado, mas isto ainda está sendo revisto, já que o atual governo intenciona suspender.)

O Estatuto do Idoso, porém, não trata das questões afetivas (nem poderia, mesmo, salvo em ocorrência de maus tratos), nem de que todos os filhos, por exemplo, assumam o papel de, pelo menos, visitar o idoso e auxiliar aquele parente cuidador. Geralmente, a questão descamba para um filho só, que passa a ter a vida onerada, transtornada, pois é sempre uma questão exigente.

Outro dia assisti a um programa televisivo onde havia uma corrente que defendia uma lei que "obrigasse" a família, mais especificamente, todos os filhos, a marcar presença, a demonstrar afetividade para com o parente idoso, seja em casa, seja em instituição hospitalar ou abrigo (provisório ou permanente). Essas pessoas, ligadas à Saúde, pretendiam fosse instituída uma lei que previsse multas financeiras para todos os familiares que deixassem de cumprir seu papel afetivo para com o idoso. Complicado!

Uma das correntes  contrárias, classificou de "monetarização do idoso" a idéia. Mas, fica a pergunta: vale ou não vale a pena "obrigar", mediante multa, a visitar o parente velhinho?

Particularmente, já assisti a algumas situações onde o idoso estava tão saudoso, tão choroso, tão frágil emocionalmente, clamando, cheio de saudade, pela presença de algum filho ausente que, sinceramente, fiquei a favor da criação desta lei. Dizia ele: "Se ele tá com raiva de mim pelas coisas que fiz no passado, diz pra ele que eu quero me ajoelhar na frente dele e pedir perdão..." 

Em uma outra situação, veiculada pela mídia, uma mãe dizia: "Eles me tratam bem aqui, minha filha, não me falta nada, eu não vou te pedir pra me levar com você, eu só quero te ver de novo, te dar um abraço!"...

Na questão da exigência prevista em lei, talvez o parente, p0remido pelo bolso, amedrontado pela possibilidade de uma multa significativa, aquele filho compareceria, mesmo que para fingir um tanto de afeto. Ao idoso, bastaria isto, sim. Ele veria, mais uma vez, aquele filho amado, poderia tocá-lo uma vez mais, senti-lo. E, mesmo que para o outro lado fosse um saco, uma tarefa a ser cumprida, ao idoso seria um presente.

Complicado mesmo, não é? Monetarização do idoso. Mas, só para quem já assistiu a certas situações bem frágeis no terreno dos velhinhos terminais, para entender o que estou escrevendo.

Sentimentos são sempre conturbados, confusos, as mais das vezes, pouco explicáveis.



Decisão individual

Cabe a reflexão, com a proximidade deste Natal, de como andam as suas relações e do que você está disposto a doar em afetividade para aqueles que, mesmo em um tempo remoto, significaram muito para você. Afinal, como humanos, a prospecção é de que todos passemos por situações idênticas.

Todos somos feitos de erros e acertos.

Respeito à ancestralidade, ainda que ande em desuso, é um valor importante e promovedor de integridade.



ABRACE MUITO NESTE NATAL! E SEMPRE!
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